sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Avaliação do Desenvolvimento de Mogno Consorciado


AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DE MOGNO BRASILEIRO, CEDRO AUSTRALIANO E SERINGUEIRA  PLANTADOS  EM CONSÓRCIO NA REGIÃO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO  – SP.

M. S. Bernardes1; E. P.Guiducci2; G. M. V. Guidicci3
1
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ – Universidade de São  Paulo  - Dept.
Produção Vegetal. Av. Pádua Dias, 11 – Cx. P. 09 - CEP: 13418-900 Piracicaba, SP – Brasil, E-mail:
2 e 3

msbernar@carpa.ciagri.usp.br;

Engenheiros agrônomos – Caixa Postal 25, CEP-15170-000,

Tanabi  – SP,  E-mail: guiducci@triline.com.br.

Resumo:

Este  trabalho teve  como  objetivo,  avaliar  o SAF composto por mogno  brasileiro,  cedro  australiano e seringueira na região  noroeste do Estado de São  Paulo. A seringueira foi plantada em fileiras duplas no   espaçamento  de   6,0m   x  2,5m   e   intercalada  com   fileiras   quádruplas  de   mogno   e   cedro (intercalados), no espaçamento 3,0 m x 2,0 m. Com a broca  dos  ponteiros foi controlada pela  Colacid (polibuteno+piretróide) razão porque o mogno  não  sofreu  injúrias.  Todas as avaliações são  iniciais e as plantas apresentam-se em  desenvolvimento pleno,  sendo que  o  cedro   australiano apresentou maior  média  de  DAP, seguido por seringueira e mogno;  sendo respectivamente: 4,88  cm, 4,21  cm e
4,14  cm, enquanto que  em  altura,  as maiores médias são  das  árvores de  seringueira, seguidas pelo cedro  e mogno, respectivamente: 4,6 cm, 4,0 cm e 3,7 cm.

Palavras-chaves:  Swietenia macrophylla King, Toona  ciliata,Hevea brasiliensis, broca  dos  ponteiros,
Hypsipyla grandella Zeller

1. INTRODUÇÃO
Na  Amazônia a  intensa exploração do  mogno  de  ocorrência natural  na  floresta  comprometeu sua reposição. Seu  alto preço  no mercado nacional e internacional, a demanda crescente do consumo de madeira  e   a   falta  de   controle   por  parte   das   autoridades  brasileiras, acabam  por  encorajar a exploração ilegal desta espécie. Sua  escassez é crescente e está em vias de extinção como  produto explorável. Tais  fatores indicam  que  o investimento em  plantações comerciais de  mogno  tende ser altamente interessante tanto  no quesito ambiental, quanto no comercial. Porém, a principal limitação ao  seu  cultivo deve-se ao  ataque da  "broca  dos  ponteiros", causada  pela  Hypsipyla  grandella Zeller que,   em  sucessivos  ataques,  induzem intensa brotação lateral,   impedindo   a  formação de  tronco aproveitável.   Diante  desse  desafio, como  alternativa de  cultivo  do  mogno  fora  de  sua   região  de origem   que   é  a  Amazônica, elaborou-se  um  sistema  agroflorestal (SAF)  composto  por  mogno brasileiro,  cedro  australiano e seringueira. O cedro,  resistente ao ataque da broca,  atrai cerca de 80% das  posturas, cujas  lagartas daí  eclodidas acabam por  morrer  após a  ingestão de  folhas.  É  uma árvore  da mesma família do mogno, de origem  na Ásia e Oceania, que  é resistente ao seu  ataque e atrai  cerca de  80%  das  posturas, cujas  lagartas daí  eclodidas, acabam por  morrer;  torna-se planta isca   e  fonte  de  renda via  madeira nobre. Juntamente  com  a  Colacid,   uma   mistura   de  cola  de polibuteno   e  um  inseticida piretróide,   aplicado na  fase   inicial  de  cada brotação do  mogno, pode garantir  100%  de  controle  (Ohashi et.  al. 2008).  A seringueira entra  neste SAF como  alternativa de cultura  explorável em  médio  prazo  podendo, se bem  conduzida, começar a gerar  receita a partir do sexto  ano  da implantação, através da extração e venda de borracha natural. A região  Norte do Estado de  São  Paulo  é o principal pólo de  produção de  borracha natural  do Brasil e onde  estão localizadas as principais  empresas compradoras da  matéria-prima. O objetivo  do  trabalho foi avaliar  o desenvolvimento das  três espécies em consórcio na região  de São  José do Rio Preto  – SP.

2. METODOLOGIA
O trabalho foi instalado na  Propriedade particular  do Sr.  Nelcindo  Gonzáles em  Talhado, distrito de São  José do Rio Preto  – SP,  há cerca de 450 km ao noroeste da capital  paulista. O clima da região  é tropical  de  altitude,  com  inverno  seco e ameno (temperatura média  do mês  mais  frio superior a 18° C), temperatura média  anual  de  25,33°C  (Koeppen Aw). Precipitação média  anual  em torno de  1200 mm.  O terreno possui uma  declividade média  e  as linhas  de  plantio  acompanharam as curvas de nível.  O sistema agroflorestal foi estabelecido numa  área total  de  27  ha  da  propriedade, de  forma seqüencial, onde  primeiro foi realizado o plantio da seringueira, depois o do mogno  e, em seguida, o

do  cedro.  No projeto,  o mogno  e  o cedro  deveriam ter  sido  plantados após um  ano  do  plantio  da seringueira.  Porém,  o   cronograma  foi  alterado,  e   o   plantio   dessas  espécies  foi  antecipado aproveitando o  início  do  período chuvoso, de  forma  que:  1)  em  março   2007  foram  plantadas as mudas de seringueira (mudas enxertadas com o clone  RRIM 600 com porta-enxerto de 12 meses, na densidade de  400  plantas/ha); 2) em  novembro de  2007,  realizou-se o plantio  do  mogno  brasileiro (mudas com  11 meses, desenvolvidas a partir de  sementes provenientes do Pará, na  densidade de
500  plantas/ha); 3)  em  dezembro 2007  plantou-se o  cedro   australiano (mudas desenvolvidas em tubetes com 5 meses de idade,  na densidade de 500 plantas de cedro/ha). O plantio de cada espécie obedeceu ao espaçamento esquematizado na Figura 1.




                                                                           



Tabela 1: Diâmetro  médio à altura  do peito (DAP), altura  média,  número e porcentagem de indivíduos e volume  em função  da classe de DAP para  o mogno.


















Figura 1 – Módulo da disposição das espécies no SAF.

Foram  programados desbastes aos  5, 10 e 20 anos do plantio,  objetivando gerar  receita e diminuir a densidade de  plantas na  área, permitindo  que  as plantas deixadas tenham maiores condições de  se desenvolver para  o corte raso  aos  30 anos.
As avaliações foram realizadas no dia 23/02/2009, em 4 parcelas contendo, cada uma,  10 plantas de cada espécie, dentro  de um módulo  do SAF, ou seja,  uma  parcela correspondeu a uma  área de 10m
x 14m,  abrangendo 5 plantas de  seringueira de  cada lado  e 20 plantas centrais sendo 10 mognos e
10  cedros. Cada parcela foi escolhida aleatoriamente na  área e  disposta em  níveis  diferentes do terreno, tentando abranger ao máximo as possíveis diferenças de fertilidade da área. Foram,  medidas a altura  de plantas (H), com régua graduada de 10 em 10 cm até  6,0m e o diâmetro à altura  de 1,20m acima  da  superfície do  solo,  considerado como  diâmetro à  altura  do  peito  (DAP),  com  auxílio  de paquímetro. Fez-se uma  distribuição de  freqüência em  classes  diamétricas e  de  altura  para  cada espécie,        com      amplitude      de      1,0cm      e      1,0m,       respectivamente.        A     partir       da      fórmula V=[(p*DAP2)/40000]*H*f (Oliveira et al. 2007),  foi calculado o volume  (V) obtido pela  seringueira aos
23 meses do plantio,  mogno  aos  15 meses do plantio  e cedro  aos  14 meses do plantio.  O fator de forma (f) usado foi igual a 0,7 para  as três  espécies. O controle  da broca  dos  ponteiros tem sido feito com aplicação de 2 pingos  de Colacid  (0,5g/planta), um na porção mediana e outro  na parte  final da brotação nova  das  plantas de  mogno  (Ohashi et. al. 2008),  com  rondas quinzenais no período mais quente e chuvoso e mensais no período mais  seco e frio. Todo e qualquer problema relacionado ao desenvolvimento das  plantas foi observado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O controle  da  broca  iniciou-se  a  partir  dos  primeiros  ataques, cerca de  4 meses após o plantio  do mogno. As plantas atacadas foram  podadas logo abaixo  da  área afetada pela  broca  e reconduzidas

deixando apenas  um  broto  sadio  se desenvolver logo  abaixo  da  região  cortada. Esse ataque não chegou a atingir 0,5%  das  árvores devido  ao diagnóstico rápido  e aplicação da Colacid  desde então. Também,  7   meses  após  o   plantio   do   cedro   (julho/2008),   ocorreu  um   ataque  da   cochonilha Planococcus  citri  em   toda   a   área,  a   qual   foi  controlada  com   duas  aplicações  de   inseticida organofosforado, somente nas  plantas de cedro.  As rondas constantes na área permitem que  se faça também desbrotas freqüentes e controle  de formigas. A condução do fuste  tanto  do mogno  quanto do cedro  dar-se-á até  6 metros de  altura  através das  desbrotas de  ramos laterais, sendo que  a  partir dessa altura  as plantas terão  o desenvolvimento livre para  formarem suas copas. As perdas e falhas na área total do sistema, atribuída à mortalidade das  plantas, foi estimada em 3%.
Em  relação às classes diamétricas do  mogno, verificou-se que  89%  das  plantas encontram-se na faixa  de  3,1  a  5,0  cm  de  DAP. Quanto à  altura,  a  maior  parte  das  plantas de  mogno  concentra-se entre 3,3 e 3,8m.  Apenas 5% das  plantas atingiram  4,7m  em  média  (Tabela 1). Esses resultados de crescimento, sobrevivência e escape às pragas são similares ou superiores à maioria  dos  trabalhos consultados, entre   eles   os  de  Lopes   et  al.  (2000),  Matricardi  e  Abdala  (1994),  Menezes  (2003), Pereira e Fernandes (1998) e Silva et al. (2004).






no cedro,  as principais  classes diamétricas foram na faixa de 4,1 a 6,0 cm de DAP, representando
66%  das   plantas, sendo que  a  altura  dessas  plantas ficou  concentrada na  faixa  de  3,8  e  4,3m. Apenas 12% das  plantas apresentam altura  média  de 4,8m (Tabela 2).

 
Tabela 2: Diâmetro  médio à altura  do peito (DAP), altura  média,  número e porcentagem de indivíduos e volume  em função  da classe de DAP para  o cedro.












Nota-se que  as dimensões do cedro  são  maiores que  as do mogno, esclarecendo as diferenças de volume  total  de  0,235m³ para  cedro  e  0,138m³ para  mogno  indicando, possivelmente,  um  ciclo de corte mais precoce do cedro  em relação ao mogno.
Os   resultados  de   crescimento  da   seringueira  são   compatíveis  com   aqueles  observados  por Bernardes (1989)  com o mesmo cultivar. Na seringueira, como  o objetivo principal é a explotação de borracha natural, a  característica mais  expressiva observada é  a  uniformidade do  DAP, sendo que
72,5 % das  plantas encontram-se na classe de 4,1 a 5,0cm  de DAP e 2,5% na classe de 5,1 a 6,0cm de DAP.  (Tabela 3). Segundo Bernardes (2000),  a circunferência à altura  do peito (CAP- a 1,20m  do solo) mínima  de uma  árvore  para  entrar  em sangria é de 45cm.  Foi calculada a CAP para  as classes de  DAP,  através da  fórmula  CAP=DAPx3,1415, para  facilitar  a  observação dos  resultados. Sendo assim, projeta-se que  cerca de  75%  das  árvores de  seringueira estarão em  sangria no sexto  ano  de idade,   pois  essa  uniformidade em  DAP  tende a  se manter. A CAP  média  é  de  13,7  cm  para   as plantas de  4,1 a 5,0 cm de  DAP, como  se na  tabela 3. Todas as árvores de  seringueira estão formando copa  e, por enquanto, apresentam altura  média  superior a do mogno  e a do cedro.






 
Tabela  3:  Diâmetro  médio  à  altura  do  peito  (DAP),  circunferência média  à  altura  do  peito  (CAP),  altura  média,   número e porcentagem de indivíduos  e volume em função  da classe de DAP para  a seringueira.












As   três   espécies  apresentam  até   o   momento  alguma  complementareidade,   não   interferindo negativamente no  desempenho das   demais e  otimizando a  utilização  da  mão-de-obra e  recursos materiais. Os efeitos  biofísicos  entre  as espécies ainda  não foram avaliados.

4. CONCLUSÕES
1) O consórcio mogno, cedro  e  seringueira, tem  apresentado  funcionalidade agroflorestal na  região noroeste do Estado de São  Paulo;
2)   O   ataque  por   Hypsipyla    grandella  Zeller   foi  muito   baixo   não    limitou   o   crescimento  e desenvolvimento do mogno  brasileiro  que foi comparável ao dos  melhores resultado já relatados;
3)  O  cedro   australiano  apresentou  maior   desenvolvimento quando  comparado  com   o  mogno brasileiro;
4)   A   seringueira está   se   desenvolvendo dentro    dos    padrões  de    crescimento   de    plantios convencionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bernardes, M. S. Efeito de métodos químicos de indução de copa  no desenvolvimento da seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg. cv RRIM 600).  1989. 192p.  Dissertação (Mestrado em  Fitotecnica) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São  Paulo, Piracicaba, 1989. Bernardes, M. S. (ed.) Sangria da seringueira. (2 ed.rev.ampl.) Piracicaba: O editor, 2000.  405p. Lopes, J. C. A.; Jennings, S. B., Silva, J. N. M.; Matni, N. T. Plantio  em clareiras de exploração: uma opção para  o uso  e conservação do mogno  (Swietenia macrophylla King). Belém,  Embrapa/CPATU,
2000,  4p. (Comunicado técnico, 46)
Matricardi, E. A. T.; Abdala,  N. S. Mogno em Rondônia. Porto Velho, SEBRAE/RO, 1994,  63p. Menezes, J.  M. T. Aspectos silviculturais  de  componentes arbóreos de  sistemas  agroflorestais no Norte de Rondônia. 2003.  91p. Tese (Doutorado Produção Vegetal)  – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2003.
Pereira, R. da S.; Fernandes, W. T. Comportamento ecofisiológico do mogno  (Swietenia macrophylla, King), no município de Miguel Pereira-RJ. Floresta e ambiente, v.5, p.139-145, 1998.
Ohashi, O. S.; Silva, J. N. M.; Silva, M. F. G. F.; Costa, M. S. S.; Sarmento Jr, R. G.; Santos, E. B.; Alves, M. Z. N.; Pessoa, A. M. C.; Silva, T. C. O.; Bittencourt,  P. R. G.; Barbosa, T. C.; Santos, T. M. Manejo  Integrado da  broca  do mogno  Hypsipyla  grandella Zeller ( Lep. Pyralidae). Belém,  Convênio Embrapa/FCAP com apoio  do FUNTEC/SECTAM  e do BASA, 2008,  33p.
Oliveira,  T. K.; Luz, S.  A.; Santos, F. C. B.; Lessa, L. S.  Crescimento do  mogno  e  eucalipto como cercas vivas no Acre, Brasil. CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA: MANEJO DE AGROECOSSISTEMAS SUSTENTÁVEIS, Guarapari,   2007.   Resumo.   Guarapari:  ABA/INCAPER,
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Silva,  J.  A. da  ; Leite,  E.  J.;  Salomão, A. N.; Santos, I. R.  I. Banco  de  germoplasma de  espécies florestais nativas do  campo experimental sucupira mogno  (Swietenia macrophylla King) Meliaceae. Brasília,  2004.  50p.