AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DE MOGNO BRASILEIRO, CEDRO AUSTRALIANO E SERINGUEIRA PLANTADOS EM CONSÓRCIO NA REGIÃO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP.
M. S. Bernardes1; E. P.Guiducci2; G. M. V. Guidicci3
1
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ – Universidade de São Paulo - Dept.
Produção Vegetal. Av. Pádua Dias, 11 – Cx. P. 09 - CEP: 13418-900 Piracicaba, SP – Brasil, E-mail:
2 e 3
msbernar@carpa.ciagri.usp.br;
Engenheiros agrônomos – Caixa Postal 25, CEP-15170-000,
Tanabi – SP, E-mail: guiducci@triline.com.br.
Resumo:
Este trabalho teve como objetivo, avaliar o SAF composto por mogno brasileiro, cedro australiano e seringueira na região noroeste do Estado de São Paulo. A seringueira foi plantada em fileiras duplas no espaçamento de 6,0m x 2,5m e intercalada com fileiras quádruplas de mogno e cedro (intercalados), no espaçamento 3,0 m x 2,0 m. Com a broca dos ponteiros foi controlada pela Colacid (polibuteno+piretróide) razão porque o mogno não sofreu injúrias. Todas as avaliações são iniciais e as plantas apresentam-se em desenvolvimento pleno, sendo que o cedro australiano apresentou maior média de DAP, seguido por seringueira e mogno; sendo respectivamente: 4,88 cm, 4,21 cm e
4,14 cm, enquanto que em altura, as maiores médias são das árvores de seringueira, seguidas pelo cedro e mogno, respectivamente: 4,6 cm, 4,0 cm e 3,7 cm.
Palavras-chaves: Swietenia macrophylla King, Toona ciliata,Hevea brasiliensis, broca dos ponteiros,
Hypsipyla grandella Zeller
1. INTRODUÇÃO
Na Amazônia a intensa exploração do mogno de ocorrência natural na floresta comprometeu sua reposição. Seu alto preço no mercado nacional e internacional, a demanda crescente do consumo de madeira e a falta de controle por parte das autoridades brasileiras, acabam por encorajar a exploração ilegal desta espécie. Sua escassez é crescente e está em vias de extinção como produto explorável. Tais fatores indicam que o investimento em plantações comerciais de mogno tende ser altamente interessante tanto no quesito ambiental, quanto no comercial. Porém, a principal limitação ao seu cultivo deve-se ao ataque da "broca dos ponteiros", causada pela Hypsipyla grandella Zeller que, em sucessivos ataques, induzem intensa brotação lateral, impedindo a formação de tronco aproveitável. Diante desse desafio, como alternativa de cultivo do mogno fora de sua região de origem que é a Amazônica, elaborou-se um sistema agroflorestal (SAF) composto por mogno brasileiro, cedro australiano e seringueira. O cedro, resistente ao ataque da broca, atrai cerca de 80% das posturas, cujas lagartas daí eclodidas acabam por morrer após a ingestão de folhas. É uma árvore da mesma família do mogno, de origem na Ásia e Oceania, que é resistente ao seu ataque e atrai cerca de 80% das posturas, cujas lagartas daí eclodidas, acabam por morrer; torna-se planta isca e fonte de renda via madeira nobre. Juntamente com a Colacid, uma mistura de cola de polibuteno e um inseticida piretróide, aplicado na fase inicial de cada brotação do mogno, pode garantir 100% de controle (Ohashi et. al. 2008). A seringueira entra neste SAF como alternativa de cultura explorável em médio prazo podendo, se bem conduzida, começar a gerar receita a partir do sexto ano da implantação, através da extração e venda de borracha natural. A região Norte do Estado de São Paulo é o principal pólo de produção de borracha natural do Brasil e onde estão localizadas as principais empresas compradoras da matéria-prima. O objetivo do trabalho foi avaliar o desenvolvimento das três espécies em consórcio na região de São José do Rio Preto – SP.
2. METODOLOGIA
O trabalho foi instalado na Propriedade particular do Sr. Nelcindo Gonzáles em Talhado, distrito de São José do Rio Preto – SP, há cerca de 450 km ao noroeste da capital paulista. O clima da região é tropical de altitude, com inverno seco e ameno (temperatura média do mês mais frio superior a 18° C), temperatura média anual de 25,33°C (Koeppen Aw). Precipitação média anual em torno de 1200 mm. O terreno possui uma declividade média e as linhas de plantio acompanharam as curvas de nível. O sistema agroflorestal foi estabelecido numa área total de 27 ha da propriedade, de forma seqüencial, onde primeiro foi realizado o plantio da seringueira, depois o do mogno e, em seguida, o
do cedro. No projeto, o mogno e o cedro deveriam ter sido plantados após um ano do plantio da seringueira. Porém, o cronograma foi alterado, e o plantio dessas espécies foi antecipado aproveitando o início do período chuvoso, de forma que: 1) em março 2007 foram plantadas as mudas de seringueira (mudas enxertadas com o clone RRIM 600 com porta-enxerto de 12 meses, na densidade de 400 plantas/ha); 2) em novembro de 2007, realizou-se o plantio do mogno brasileiro (mudas com 11 meses, desenvolvidas a partir de sementes provenientes do Pará, na densidade de
500 plantas/ha); 3) em dezembro 2007 plantou-se o cedro australiano (mudas desenvolvidas em tubetes com 5 meses de idade, na densidade de 500 plantas de cedro/ha). O plantio de cada espécie obedeceu ao espaçamento esquematizado na Figura 1.
Tabela 1: Diâmetro médio à altura do peito (DAP), altura média, número e porcentagem de indivíduos e volume em função da classe de DAP para o mogno.
Figura 1 – Módulo da disposição das espécies no SAF.
Foram programados desbastes aos 5, 10 e 20 anos do plantio, objetivando gerar receita e diminuir a densidade de plantas na área, permitindo que as plantas deixadas tenham maiores condições de se desenvolver para o corte raso aos 30 anos.
As avaliações foram realizadas no dia 23/02/2009, em 4 parcelas contendo, cada uma, 10 plantas de cada espécie, dentro de um módulo do SAF, ou seja, uma parcela correspondeu a uma área de 10m
x 14m, abrangendo 5 plantas de seringueira de cada lado e 20 plantas centrais sendo 10 mognos e
10 cedros. Cada parcela foi escolhida aleatoriamente na área e disposta em níveis diferentes do terreno, tentando abranger ao máximo as possíveis diferenças de fertilidade da área. Foram, medidas a altura de plantas (H), com régua graduada de 10 em 10 cm até 6,0m e o diâmetro à altura de 1,20m acima da superfície do solo, considerado como diâmetro à altura do peito (DAP), com auxílio de paquímetro. Fez-se uma distribuição de freqüência em classes diamétricas e de altura para cada espécie, com amplitude de 1,0cm e 1,0m, respectivamente. A partir da fórmula V=[(p*DAP2)/40000]*H*f (Oliveira et al. 2007), foi calculado o volume (V) obtido pela seringueira aos
23 meses do plantio, mogno aos 15 meses do plantio e cedro aos 14 meses do plantio. O fator de forma (f) usado foi igual a 0,7 para as três espécies. O controle da broca dos ponteiros tem sido feito com aplicação de 2 pingos de Colacid (0,5g/planta), um na porção mediana e outro na parte final da brotação nova das plantas de mogno (Ohashi et. al. 2008), com rondas quinzenais no período mais quente e chuvoso e mensais no período mais seco e frio. Todo e qualquer problema relacionado ao desenvolvimento das plantas foi observado.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O controle da broca iniciou-se a partir dos primeiros ataques, cerca de 4 meses após o plantio do mogno. As plantas atacadas foram podadas logo abaixo da área afetada pela broca e reconduzidas
deixando apenas um broto sadio se desenvolver logo abaixo da região cortada. Esse ataque não chegou a atingir 0,5% das árvores devido ao diagnóstico rápido e aplicação da Colacid desde então. Também, 7 meses após o plantio do cedro (julho/2008), ocorreu um ataque da cochonilha Planococcus citri em toda a área, a qual foi controlada com duas aplicações de inseticida organofosforado, somente nas plantas de cedro. As rondas constantes na área permitem que se faça também desbrotas freqüentes e controle de formigas. A condução do fuste tanto do mogno quanto do cedro dar-se-á até 6 metros de altura através das desbrotas de ramos laterais, sendo que a partir dessa altura as plantas terão o desenvolvimento livre para formarem suas copas. As perdas e falhas na área total do sistema, atribuída à mortalidade das plantas, foi estimada em 3%.
Em relação às classes diamétricas do mogno, verificou-se que 89% das plantas encontram-se na faixa de 3,1 a 5,0 cm de DAP. Quanto à altura, a maior parte das plantas de mogno concentra-se entre 3,3 e 3,8m. Apenas 5% das plantas atingiram 4,7m em média (Tabela 1). Esses resultados de crescimento, sobrevivência e escape às pragas são similares ou superiores à maioria dos trabalhos consultados, entre eles os de Lopes et al. (2000), Matricardi e Abdala (1994), Menezes (2003), Pereira e Fernandes (1998) e Silva et al. (2004).
Já no cedro, as principais
classes diamétricas foram na faixa de 4,1 a 6,0 cm de DAP, representando
66%
das plantas, sendo que
a
altura
dessas plantas ficou concentrada na faixa de 3,8 e 4,3m. Apenas
12% das plantas apresentam altura média de 4,8m (Tabela 2).
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Nota-se que as dimensões do cedro são maiores que
as do mogno, esclarecendo as diferenças de volume total de 0,235m³ para
cedro
e
0,138m³ para
mogno
indicando, possivelmente, um ciclo
de corte mais precoce do cedro em relação ao
mogno.
Os resultados de crescimento
da seringueira
são compatíveis
com aqueles observados
por
Bernardes (1989) com o mesmo cultivar. Na seringueira,
como o objetivo principal
é a explotação de
borracha natural, a característica mais
expressiva observada é a uniformidade do DAP, sendo que
72,5 % das plantas encontram-se na classe de 4,1 a 5,0cm de DAP e 2,5% na classe de 5,1 a 6,0cm de DAP. (Tabela 3).
Segundo Bernardes (2000),
a circunferência à
altura do peito (CAP- a 1,20m do solo) mínima de uma
árvore
para
entrar
em sangria é
de 45cm. Foi calculada a
CAP para as classes
de DAP, através da fórmula CAP=DAPx3,1415, para
facilitar a observação dos resultados. Sendo assim, projeta-se que cerca de 75% das árvores de
seringueira estarão em sangria no sexto ano de idade, pois essa uniformidade em DAP tende a
se manter. A
CAP média é de 13,7 cm para
as plantas de 4,1 a 5,0 cm de
DAP, como se vê
na tabela 3.
Todas
as árvores de seringueira já estão formando copa
e, por enquanto, apresentam altura média superior a do mogno
e a do cedro.
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As três espécies apresentam até o momento alguma complementareidade, não interferindo negativamente no desempenho das demais e otimizando a utilização da mão-de-obra e recursos materiais. Os efeitos biofísicos entre as espécies ainda não foram avaliados.
4. CONCLUSÕES
1) O consórcio mogno, cedro e seringueira, tem apresentado funcionalidade agroflorestal na região noroeste do Estado de São Paulo;
2) O ataque por Hypsipyla grandella Zeller foi muito baixo não limitou o crescimento e desenvolvimento do mogno brasileiro que foi comparável ao dos melhores resultado já relatados;
3) O cedro australiano apresentou maior desenvolvimento quando comparado com o mogno brasileiro;
4) A seringueira está se desenvolvendo dentro dos padrões de crescimento de plantios convencionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bernardes, M. S. Efeito de métodos químicos de indução de copa no desenvolvimento da seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg. cv RRIM 600). 1989. 192p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnica) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1989. Bernardes, M. S. (ed.) Sangria da seringueira. (2 ed.rev.ampl.) Piracicaba: O editor, 2000. 405p. Lopes, J. C. A.; Jennings, S. B., Silva, J. N. M.; Matni, N. T. Plantio em clareiras de exploração: uma opção para o uso e conservação do mogno (Swietenia macrophylla King). Belém, Embrapa/CPATU,
2000, 4p. (Comunicado técnico, 46)
Matricardi, E. A. T.; Abdala, N. S. Mogno em Rondônia. Porto Velho, SEBRAE/RO, 1994, 63p. Menezes, J. M. T. Aspectos silviculturais de componentes arbóreos de sistemas agroflorestais no Norte de Rondônia. 2003. 91p. Tese (Doutorado Produção Vegetal) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2003.
Pereira, R. da S.; Fernandes, W. T. Comportamento ecofisiológico do mogno (Swietenia macrophylla, King), no município de Miguel Pereira-RJ. Floresta e ambiente, v.5, p.139-145, 1998.
Ohashi, O. S.; Silva, J. N. M.; Silva, M. F. G. F.; Costa, M. S. S.; Sarmento Jr, R. G.; Santos, E. B.; Alves, M. Z. N.; Pessoa, A. M. C.; Silva, T. C. O.; Bittencourt, P. R. G.; Barbosa, T. C.; Santos, T. M. Manejo Integrado da broca do mogno Hypsipyla grandella Zeller ( Lep. Pyralidae). Belém, Convênio Embrapa/FCAP com apoio do FUNTEC/SECTAM e do BASA, 2008, 33p.
Oliveira, T. K.; Luz, S. A.; Santos, F. C. B.; Lessa, L. S. Crescimento do mogno e eucalipto como cercas vivas no Acre, Brasil. CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA: MANEJO DE AGROECOSSISTEMAS SUSTENTÁVEIS, Guarapari, 2007. Resumo. Guarapari: ABA/INCAPER,
2007, p-830-833.
Silva, J. A. da ; Leite, E. J.; Salomão, A. N.; Santos, I. R. I. Banco de germoplasma de espécies florestais nativas do campo experimental sucupira mogno (Swietenia macrophylla King) Meliaceae. Brasília, 2004. 50p.